Meu avô e minha avó
tinham um caminhar
maturo.
Ela, lenta no
galope;
ele, acelerado e
ágil.
Caminhavam a olhar a
última traça
que deixara o animal
do dia.
Ela seguia o passo
do homem
como uma
consequência natural.
O rio do meu avô
e da minha avó
não se parecem com o
Guadalquivir
nem com o Guayas.
É-vos um rio de
pedra que desce
sobre os carreiros
que faltam por
conhecer
e penetrar.
A minha avó nada tem
a ver
com a avó do
Perencejo.
O Perencejo não tem
esses carreiros
nem esse passo
seguro e lento.
O avô do Fulano
não conhece o
caminho que o meu avô guarda
no bolso:
carreiro extraviado
entre a menta e o
“king” sem filtro
a que cheiravam as
suas calças.
O meu avô parece-se
com os astros.
A minha avó é um
astro.
O meu avô parece-se
com a minha avó
e ambos com as
estrelas.
Não têm nada do
Guayas nem do Guadalquivir.
Nem dos velhos
Fulano e Perencejo.
Olhamos para eles
através das
radiografias das suas pegadas.
Olhamos para os seus
carreiros como esfinges
que herdamos para
praticar a fé.
Não tem nada a ver
com os meus sapatos tortos.
Caminharam os dous
até ao vale da morte.
São um rio que
esconde as águas
debaixo das pedras.
ANTES DA CAÇA
A meu pai
Quero
encontrar o lugar
onde me
situar.
Entro na
vizinhança
de vozes
que me dizem:
vai procurar longe
nos
cais das mágoas,
vai pôr-te na fila
com os astros;
deixa
um bocadinho o poema,
e
reconhece os olmos.
Acha
que já incomodas
que
em grande um se deforma
e
se consome.
Mamã já
não prepara bem as ceias,
não há
jantares até depois do dia.
Vai
procurar o círculo vicioso
que possa
tornar-te homem
na insónia
dos dias.
Vai e não voltes
até
depois da caça.
A INVISÍVEL
Há alguém
noutra
parte,
que olha
para mim como para um espelho.
Que se
põe a me remedar
no bordo.
Que se
passeia por mim
como uma
epidemia.
Segue-me até
aos beiços,
aos
narizes,
às mágoas.
Há alguém
que quer apaixonar-se por mim
como se
eu fosse um ator de cinema,
como se
não houvesse mais domingos
para o
parque,
como se o
juízo final
tivesse
uma sentença.
Há alguém
que caminha pelas ruas,
mas no
passeio da frente
há muito
trânsito
e
perdo-a.
© Texto: Xavier
Oquendo Troncoso
© Tradução: Xavier Frias
Conde
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