I
Uma gata perpétua
alçada na beira do desconcerto
São horas
em que fita atentamente
com a fondura azul dos seus olhos.
Apenas o vidro a separa
de um par de pequenos pássaros
que pulam na árvore defronte.
Ela não sabe
mas o seu trinar é harmónico
e apenas observa
a dança do espaço mudo
como num filme de Chaplin.
II
Uma mulher
toma chá de cerejas
e olha para uma gata
ergueita na brancura.
Na mesa,
um livro de poemas em russo.
Ela intui
que a gata surda
e a sua língua muda
são complementares:
como há de ser ler e perceber
grafias e gramáticas de um idioma
e imaginar o som das palavras
sem as saber pronunciar?
III
Do mesmo filme de Chaplin
em revoluções e ritmos:
A gata é siberiana e surda.
A mulher é russa e muda.
A preto e branco
entrou na cena
o silêncio.
© Texto: Valeria Guzmán
© Tradução: Xavier Frias-Conde
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