ANJO PARA UM FINAL
Acontece que os anjos despenduraram
com a trovoada
e choram enquanto as suas asas
ficam molhadas nos charcos.
Acontece
que os miúdos vigiam as suas mães
nos parques
e ameaçam com abandoná-las.
Acontece
que nas carícias já as mãos não
tremem,
que um corpo e o outro já nem se
tocam
exceto para cobrir as despesas.
Acontece
que o nevoeiro fica às paredes
apegado
e grafiteia o silêncio da noite.
Acontece
que as sombras caminham sem os corpos
e vai frio, muito frio.
Acontece
que o mundo é um espiral que expira
por cada desfeita de um justo.
CADÁVER
Sou um cadáver em processo de decomposição
sei-o porque as moscas
volateiam ao meu redor com olhos de
avaras.
Sei-o porque o frio não abandona os
meus dedos.
Sei-o porque não me vês
e não me tocas.
Sei-o porque aqueles apagam a minha
recordações
e estes ficam tranquilos
na sua recém estreada solidão
© Texto: Montserrat Villar
© Tradução: Xavier Frias Conde
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