A LATIF PEDRAM E A TODAS AS VOZES SEQUESTRADAS
Repito-me até o sangue que é minha casa,
que as paredes que me embrulham são as minhas
e os livros
e até eu sou eu no espelho
embora não me reflita.
Apertam-me
e afogo
nesta cadeia tão minha e tão alheia.
É a porta da fronteira
e não há qualquer salvo-conduto que a atravesse.
Criminoso perigoso,
anunciam os meus guardas
e, na minha boca, descontrolada
late a liberdade
UNDERWOOD WORDS
A Miguel Hernández
como o traste
cujas teclas fugiram pelo tempo,
ainda arrincoo no meu metal profundo
o ledo bulir entre as tuas mãos,
os silêncios de olhar perdido,
a latente cadência do teu raio que não cessa.
Se puder sentir,
teria saudades
daquele escritório isento de paredes,
con aromas de vento e adejo,
e a perícia febril nos poemas
quando o sentimento é desbordado pelas palavras.
O óxido corrói as minhas entranhas
e o tempo consume o ouro dos seus ossos
para fundir as letras do teu nome.
[JOGUEMOS]
Joguemos a nos esconder
trás o tronco da árvore da música,
a foto não nos deixa sujar os vestidos.
Joguemos a nos abrasar em tardes de pântano,
quando o sol se torna lume entre as rochas.
Joguemos a jogar
antes de uma brecha abrir
o tempo e a distância
que nos definem diferentes.
"Ela veio mais tarde,
mas já não me lembro da sua chegada".
Joguemos, trás as sombras, a encontrar-nos
Texto: Isabel Miguel
Tradução: Xavier Frias Conde