quinta-feira, 17 de setembro de 2015

O PEQUENO MUNDO VERMELHO E OUTROS POEMAS DE MARTHA GARAY




O PEQUENO MUNDO VERMELHO

Não quero tocar o teu halo,
Não ouso.
Quero nomear a tua beleza
honrar a tua vida para não pensar
no motivo do teu esvaecimento.
Essa ourela do mundo com a tua silueta.
És todos os filhos do céu e
não para de chover e
se calhar isso faça acordar ou ao menos
afaste a porcaria
doutro mundo que não és tu.
Quanta beleza em ti
mesmo assim,
levado sem perguntares.
Quem descreve a dor
da areia
em que apoias o teu rosto,
se calhar as mães que celebram tocar
o alento dos seus filhos que dormem.
Que género de alegria é essa
de saber que fica com sua mãe
nesse mesmo lugar
que não existe.



VERSÕES DA ILHA

Sob o claro do azul absoluto,
caminho sobre os brilhos das águas,
refuto as razões
de dever ser por um fluxo acumulado do desejo,
um pouco de imagem,
um pouco de lembrança,
um pouco de palavra,
um pouco de impossível.
Demasiada luz que
torna pequena a sombra.



BOCAS

Esse brilho eloquente da sua própria roupa avultada.
Cenário inacabado inatingível
de uma boca longínqua
de brilhos de ar
como suave esponja nos lábios.
Aproxima-se doutras linhas
que precisam de alentos
para as cavidades
escuras,
das profundidades tobogã.
Desejo desterrado de ilha em ilha,
os gritos continentais
as frases de ondas no ventre
que elevam durante horas o sagrado.
Há que apertar e morder
para não sempre manter
o perfil rígido que procura, espera
pelo outro lugar também sagrado
que quando é nomeado desemboca
na chuva acumulada.



© Texto: Martha Garay
© Ilustração: Sandra Barrera Martín
© Tradução: Xavier Frias Conde

domingo, 13 de setembro de 2015

ESPEREI POR TI E OUTROS POEMAS DE SANDRA BARRERA

TE ESPERÉ

Estuve vigilando la ventana
mucho tiempo. No se cuánto.
No conté las horas,
ni los meses,
ni la manera en que se iban
desgarrando mis rodillas.

Te esperé a pesar de ellos
y de ellas;
de los ruidos punzantes,
de los calambres en los pies,
de las verdades molestas
que alumbran el estómago
hasta quemarlo;
a pesar de las jaquecas,
del hambre, de la sed.

Sabía que, como siempre,
terminarías volviendo;
y te esperé,
te esperé
para echarte
como a un perro.


ESPEREI POR TI

Estive a vigiar a janela
muito tempo. Nem sei quanto.
Não contei as horas,
nem os meses,
nem a forma em que se iam
esgaçando os meus joelhos.

Esperei por ti apesar deles
e delas,
dos ruídos pungentes
das cãimbras nos pés,
das verdades incómodas
que alumiam o estômago
até queimarem-no,
apesar das enxaquecas,
da fame e da sede.

Sabia que, como sempre,
voltarias ao cabo,
e esperei por ti
por ti
para te botar
como se fosses um cão.




YO, POETA DECADENTE

Yo, poeta decadente,
español del siglo veinte,
que los toros he elogiado,
y cantado
las golfas y el aguardiente...
                    Manuel Machado 

Yo, poeta decadente,
madrileña incandescente
y la reina de Macondo,
la sirena de los bares,
que escoge el vaso más hondo
para ahogar adversidades
que, con nombre y apellido
descosieron las costuras
de mi verso dolorido;
la que bebe whisky amargo
y lo endulza con suspiros
manchados de un pintalabios
con sabor a las locuras
que improvisaré esta noche

Soy la niña despistada
de flequillo mal cortado
y gafas siempre empañadas
del sentir desordenado
de mis venas desgastadas
de versar a quemarropa
y de exprimir cada instante
que se escurre en cada estrofa
de una vida que no es sueño,
sino alas que nos crecen
si ponemos el empeño
de vivir intensamente.


EU, POETA DECADENTE

Eu, poeta decadente,
madrilena incandescente
e raínha do Macondo,
a sereia dos bares
que escolhe o copo mais fundo
para afogar adversidades
que, com nome e apelidos
descoseram as costuras
do meu verso dolorido,
a que bebe uísque amargo
e adoça os suspiros
manchados com um batom
que sabe às loucuras
que improvisarei esta noite.

Sou a menina despistada
da franja mal cortada
e de óculos sempre embafados,
do sentir desarrumado,
das minhas veias desgastadas,
de versificar a queima-roupa
e de espremer cada instante
que escorrega em cada estrofa
de uma vida que não é sonho,
mas asas que nos crescem
se nos concentrarmos
en viver intensamente





TAN IMBÉCIL COMO SIEMPRE

Otra vez me ha salido
mal la jugada, y pierdo teniendo
el as bajo la falda.
Y, tan imbécil como siempre, vuelvo
a preguntarme que hasta cuándo, que hasta
quién... quién será capaz de hacer mi invierno
verano, quién  me va a sostener cuando
el mundo se me caiga
encima, quién elegirá quedarse
para hundirse conmigo.
No, ya no quiero dolores a medias
ni amores a medida;
no me hables de relaciones esdrújulas
con acento prosódico
en el penúltimo beso. No quiero
otro punto y aparte
en la primera despedida, donde
acordemos de manera pacífica
que ésta es tu libertad y ésta la mía.
Que no, que no me vale ya el querer
a risa, lo que quiero es un amor
a carcajada; sí, un amor de esos
que te abrazan en braille,
recordándote que en mitad del caos
de luces, existimos.
Y sin embargo, aunque lo que anhelo
es que nos escribamos
antologías cuando
nos asustemos del primer poema,
no creo que aguantase otra derrota.
Y por eso prefiero
volar en soledad, y me enamoro
de un verso en la penumbra
antes que de una boca.
No obstante, aunque acepto
creer saber que no soy para nadie,
porque el despiste, la literatura
o el desorden ordenado serán
siempre cosa de uno;
jamás me cansaré de defender
que, si el amor existe, es para eso
mismo, para lograr
que uno más uno se convierta en dos.


TÃO PARVO COMO SEMPRE

Outra vez saiu-me mal 
a jogada embora e perco
embora tenha o ás sob as saias.
E, tã parvo como sempre, volto
a me perguntar que até quando, que até quem...
quem será capaz de tornar o meu inverno
verão, quem me vai sustentar
quando o mundo me cair em cima,
quem escolherá ficar 
para afundir comigo.
Não, já não quero dores incompletas
nem amores à medida;
não me fales de relações esdrúxulas
com acento prosódico
no penúltimo beijo. Não quero outro
ponto e parágrafo
na primeira despedida, onde
acordemos de maneira pacífica
que esta é a tua liberdade e esta é a minha.
Pois não, que não me serve já o querer
engraçado, que eu procuro um amor
de gargalhadas; sim, um amor
desses que te abraçam em braille,
desses que te recordam que no meio do caos
de luzes, existimos.
Contudo, embora o meu desejo seja
que nos escrevamos
antologias quando
nos assustemos do primeiro poema,
acho que não aturarei outra derrota.
Por isso prefiro
voar em solidão e apaixonar-me
por um verso na penumbra
antes do que por uma boca.
Porém, embora eu aceite 
acreditar que não pertenço a ninguém,
porque o despiste, a literatura 
ou o desarrumação arrumada serão
sempre cousa própria;
nunca cansarei de defender
que, se o amor existe, é mesmo para isso,
para conseguir
que um mais um se torne dous.

© Texto: Sandra Barrera Martín
© Ilustrações: Sandra Barrera Martín
© Tradução: Xavier Frias Conde

sábado, 5 de setembro de 2015

PERSONAE, DE EMMA FONDEVILA

Personae

Fui dejando atrás
una estela de máscaras,
de disfraces,
de nombres desechados.
Hubo una época para todo eso,
una época en que nos buscábamos
en la barahúnda de personajes que queríamos ser,
de aspectos que queríamos tener,
de vocaciones indecisas,
de arrepentimientos fugaces.
Después fue el momento de vernos
como creíamos que nos veían los demás
y a veces nos gustaba
y otras nos aterraba…
Pero por fin ha llegado el tiempo de las esencias,
el tiempo de lo que somos porque queremos serlo,
de la indiferencia por lo que los demás nos atribuyen.
Hemos llegado al momento de ser sin más
de presentarnos al mundo sin pudor,
de limitar los miedos.
No me arrepiento de mis renuncias
soy hija de mis aceptaciones.

Personae

Fui deixando para trás
uma esteira de máscaras,
de disfarces,
de nomes refutados.
Houve um tempo para tudo isso,
um tempo em que estávamos à procura de nós próprios,
no sarilho dos personagens que pretendíamos ser,
das aparências que gostaríamos de ter,
das vocações indecisas,
dos arrependimentos fugazes.
Depois foi o momento de nos vermos
como achávamos que os outros olhavam para nós
e por vezes gostávamos
e outras causava-nos terror
Mas afinal chegou o tempo das essências,
o tempo do que somos porque queremos ser,
da indiferença que os demais nos atribuem.
Chegamos ao momento de apenas ser,
de nos mostrar ao mundo sem pudor,
de limitar os nossos medos.
Não me arrependo das minhas renúncias
sou filha das minhas aceitações.


© Texto: Emma Fondevila García
© Tradução: Xavier Frias Conde