quarta-feira, 23 de março de 2016

TRÊS POEMAS DE RITA CAPUCHO

no estamos
hechos distancias
no estamos
hechos recuerdos
no sabemos
nostalgia
sentimos
otras cosas
no sentimos
ese dolor
esa infelicidad
de nuestro amor
no vivimos
un amor ausente
antes el dolor
de un amor
ausente
que el dolor
de no
sentir
ese dolor

***

cada uno de nosotros tiene su desierto
y su fantasma
un soledad viciada
que nos remite al yo y al tú
pero, mi amor,
recuerda que solo los amantes sobreviven
y no te olvides
que este tiempo nuestro
ya se ha deshecho en la piel, en la mirada, en la boca

***

Estamos de espaldas
Sosteniendo las paredes de casa
Manteniendo la ventana abierta
Rompiendo las paredes horizontes
Una mirada de esperanza
Centinela de una prisión
En tiempos de amar
Retirar los destrozos del abandono
Sostener el aire en el aire
Para el tiempo en la espera
Soltar avanzar
Ser viga
Y cantar

© Texto: Rita Capucho
© Tradução: Xavier Frias Conde

quinta-feira, 17 de março de 2016

A LUZ DO SILÊNCIO [3 POEMAS] DE SANDY GARCÍA

ISOLAMENTO

A solidão não tem nome.
Nem homem / mulher.
O sapo foi comido pelos girinos.
A repetição está aniquilada.
Triunfo do nada, desgraça de todos.
As cicatrizes na pele.

AS MÃES

Posso estar amotinada
contra
minha mãe,
as mães de Maio
as de Julho e as de além.
Com as que não puderam
exercer porque a avó
se perdeu pelo caminho
por falta de insitinto de maternidade.
Viraram egoístas.
Posso ser cruel com todas elas.
E no entanto, elas não são capazes
de largar o cordão umbilical
que as une
e esmaga no interior.
Sim.
Há mães medusa,
mães comestíveis.
Não todas as mulheres são mães.
Isto é certo
e
... dói


ESPERANÇA

Saudade se chama o teu nome
que não tem nome nem letra,
nem fome, nem boca.
Saudade o arrepio.

A madrugada da ideia
que morre no lume
do verbo amor
e acorda na manhã
entre lençóis de morte
escorregados em almanaques
do ontem.

© Texto: Sandy Garcia, de La luz del silencio.
© Tradução: Xavier Frias Conde

segunda-feira, 14 de março de 2016

DOUS POEMAS DE EMMA FONDEVILA

TRAVELLING

Sempre, sempre
a avançar... a nos afastar.
Entre duas luzes: uma nos acolhe,
outra nos cega até chocarmos contra ela.
Trânsito da vida numa nebulosa absurda
virada para o mesmo ponto do espaço,
para o início ou para o nada:
o iminente passa a ser recente
e dilui-se já no magma da recordação.
Ontem temíamos este hoje
e hoje já é quase passado,
realidade superada pela urgência
do que se debruça num horizonte ilusório.
Hoje, amanhã, ontem,
lua e sol em sucessão constante,
tu e eu adormecendo e acordando,
lembrando e esquecendo tu e eu,
caminhando e descaminhando os passos do tempo.
Como uma curta de Ettore Scola:
1943, um miúdo que corre e uma sala de cinema.
1997, outro miúdo e o passado que torna a ser presente.
Mudam os rostos, mudam as cores,
ontem e hoje apostando pela mesma mudança,
avançando sem nunca chegarmos...
para onde?
Outra vez o Gatopardo
para algo mudar,
para tudo ou quase tudo
continuar na mesma,
no cinema,
na vida...
Onde é que fica a realidade?



ANESTESIA

Anuncio-te a minha ausência.
Estarei fora
numa viagem incerta
pelo escuro
pelo só
pelo nada.
Por um sonho sem sonhos,
pela falta de ti
e da tua lembrança.
Estarei fora
das minhas saudades,
dos meus anseios,
dos meus sofrimentos
e gozos
de tudo quanto sou.
Voltarei
—espero—
dum espaço sem dias de ontem,
duns parênteses de mim sem mim,
dumas horas sem tempo,
dumas horas não vividas,
perdidas
que nunca
nunca
lograrei recuperar.

© Texto: Emma Fondevila
© Tradução: Xavier Frias Conde