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segunda-feira, 14 de março de 2016

DOUS POEMAS DE EMMA FONDEVILA

TRAVELLING

Sempre, sempre
a avançar... a nos afastar.
Entre duas luzes: uma nos acolhe,
outra nos cega até chocarmos contra ela.
Trânsito da vida numa nebulosa absurda
virada para o mesmo ponto do espaço,
para o início ou para o nada:
o iminente passa a ser recente
e dilui-se já no magma da recordação.
Ontem temíamos este hoje
e hoje já é quase passado,
realidade superada pela urgência
do que se debruça num horizonte ilusório.
Hoje, amanhã, ontem,
lua e sol em sucessão constante,
tu e eu adormecendo e acordando,
lembrando e esquecendo tu e eu,
caminhando e descaminhando os passos do tempo.
Como uma curta de Ettore Scola:
1943, um miúdo que corre e uma sala de cinema.
1997, outro miúdo e o passado que torna a ser presente.
Mudam os rostos, mudam as cores,
ontem e hoje apostando pela mesma mudança,
avançando sem nunca chegarmos...
para onde?
Outra vez o Gatopardo
para algo mudar,
para tudo ou quase tudo
continuar na mesma,
no cinema,
na vida...
Onde é que fica a realidade?



ANESTESIA

Anuncio-te a minha ausência.
Estarei fora
numa viagem incerta
pelo escuro
pelo só
pelo nada.
Por um sonho sem sonhos,
pela falta de ti
e da tua lembrança.
Estarei fora
das minhas saudades,
dos meus anseios,
dos meus sofrimentos
e gozos
de tudo quanto sou.
Voltarei
—espero—
dum espaço sem dias de ontem,
duns parênteses de mim sem mim,
dumas horas sem tempo,
dumas horas não vividas,
perdidas
que nunca
nunca
lograrei recuperar.

© Texto: Emma Fondevila
© Tradução: Xavier Frias Conde

sábado, 5 de setembro de 2015

PERSONAE, DE EMMA FONDEVILA

Personae

Fui dejando atrás
una estela de máscaras,
de disfraces,
de nombres desechados.
Hubo una época para todo eso,
una época en que nos buscábamos
en la barahúnda de personajes que queríamos ser,
de aspectos que queríamos tener,
de vocaciones indecisas,
de arrepentimientos fugaces.
Después fue el momento de vernos
como creíamos que nos veían los demás
y a veces nos gustaba
y otras nos aterraba…
Pero por fin ha llegado el tiempo de las esencias,
el tiempo de lo que somos porque queremos serlo,
de la indiferencia por lo que los demás nos atribuyen.
Hemos llegado al momento de ser sin más
de presentarnos al mundo sin pudor,
de limitar los miedos.
No me arrepiento de mis renuncias
soy hija de mis aceptaciones.

Personae

Fui deixando para trás
uma esteira de máscaras,
de disfarces,
de nomes refutados.
Houve um tempo para tudo isso,
um tempo em que estávamos à procura de nós próprios,
no sarilho dos personagens que pretendíamos ser,
das aparências que gostaríamos de ter,
das vocações indecisas,
dos arrependimentos fugazes.
Depois foi o momento de nos vermos
como achávamos que os outros olhavam para nós
e por vezes gostávamos
e outras causava-nos terror
Mas afinal chegou o tempo das essências,
o tempo do que somos porque queremos ser,
da indiferença que os demais nos atribuem.
Chegamos ao momento de apenas ser,
de nos mostrar ao mundo sem pudor,
de limitar os nossos medos.
Não me arrependo das minhas renúncias
sou filha das minhas aceitações.


© Texto: Emma Fondevila García
© Tradução: Xavier Frias Conde