terça-feira, 22 de dezembro de 2015

QUANDO CALA A NOITE E OUTROS POEMAS DE RICARD MIRABETE

CELEBRAÇÃO

Mais do que a noite, o jorro de água a fender
                        as voltas da água escondida no esquecimento.

Ainda mais do que o jorro, celebração
para o amarelo luminoso e puro da sombra
do sol nos teus beiços: balança ou cantiga.

Quem desloca o peso do obscuro
para a canção nua?


QUANDO CALA A NOITE

Quando cala a noite
por detrás dos limites da tarde,
repousa e cala
para uma claridade voltar ao pé de mim.

Os ditados do vento que buliga
pelos portões e que se torna voz
e intimidade.

Tudo quanto se converte, conto-o por dentro dos olhos


A MELODIA DO VAZIO

Por debaixo do abismo cru do poente
a hipnose da queda
alonga a melodia do vazio.

Ambos deles atravessam a praia
até o quebra-mar. Perante eles, o mar
- a única marca do limite, o peso flutuante.
Trás eles, o sujo empurrão do mundo.

As rochas caminhadas.

© TextoRicard Mirabete
© Tradução: Xavier Frias Conde






segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

MOSTRA DE NOVUNQUE DE BEGONYA POZO

Fora soam
campãs nunca ouvidas.
É a música

toda tua para além
das muralhas suspendidas.


*  *  *


O serão ferve:
acolhe mãos prontas
ao sacrifício.

Depois da longa noite
vence lento o baldeiro.


*  *  *


O usual nicho
que aperta sempre os ossos
e as cinzas.

Cada vez há menos
espaço para morrer.


*  *  *

Como as gotas
na varanda deserta,
assim também tu

ligeira e pequena
quebras contra ele.


*  *  *


A tua voz
africana colhe-me
pela mão. Havia

tanto tempo que não sentia
a terra aquí a latejar.


*  *  *


Tenríssimo
este corpo pregado
ao desejo.

E ainda está ali
a 'te perguntar: até quando?


*  *  *


De arriba abaixo quitas
as calças, lenta,
con cerimónia.

Ficas despida debaixo
dos ossos crocantes.

© Texto: Begonya Pozo
© Tradução: Xavier Frias Conde