quinta-feira, 13 de novembro de 2014

O NOME DAS COUSAS, DE ANTÓN GARCÍA




CARRER XIPRERET

                                   A Matilde Marcè

A tarde mal ouve
o nome das cousas
que, cansada e rouca,
enquanto o sol se estica
sussurra sua sombra.

Caminho atento
pondo à noite
os primeiros ruídos.
Por ninguém espero.
E quando me detenho
vem o silêncio
a caminhar comigo


ENTRE PEDRAS


Aqui acaba o mundo,
nos frutais derrubados
no horto sem cancelas.

Esta terra é toda ela um berro
de pássaro a cair.

Olha para a casa ferida,
o celeiro estragado.
Silvas e urtigas tecem
silêncio nas paredes.

Por aqui passou a morte
e já mais ninguém virá
que levante estas telhas,
os casqueiros e as traves ,
que acenda novamente o candeeiro.

Cerra os olhos.

O meu coração também
é o país mais derrotado.


TABUINHA CUNEIFORME NO MET

A literatura,
o ofício de mentir com arte,
nasceu assim:

enquanto lavrava ata
do mundo,
um escriba sumério
contou sete vacas
e nove ovelhas

e anotou
três e cinco

numa tabuinha de barro como esta.

© Texto: Antón García
© Tradução: Xavier Frias Conde

terça-feira, 4 de novembro de 2014

DORMIR NA TERRA, DE ESPERANZA VIVES



DORMIR A TERRA

Escribir un poema
y después dormir muchos años
recogido a la sombra, sin sueños, sin respirar.
Miguel Ángel Curiel

Dormir a terra
sota l'ordre imposat
del refugi que la aranya envolta

Estranyar-te
sondejant de buits fulls
grogues catifes de somnis
a l'alba

Pappelweg en alemany és
camí d'albers
surant entre els teus pasos
recíprocs
de molles de neu

Llegir al vent
una al·legría feta a la mida d'un altre
com un xop groc
que estima la llum
i que busca la ruta


DORMIR NA TERRA


Escribir un poema
y después dormir muchos años
recogido a la sombra, sin sueños, sin respirar.
Miguel Ángel Curiel

Dormir na terra
sob a ordem imposta
do refúgio que a aranha embrulha

Ter de ti saudades
sondando de folhas vazias
amarelas alcatifas de sonhos
à alva

Pappelweg em alemão é
alameda
a flutuar entre os teus passos
recíprocos
de farrapos de neve

Ler ao vento
uma alegria feita à medida de outro
como um choupo amarelo
que ama a luz
e procura o roteiro.

Texto: Esperanza Vives Frasés
Tradução: Xavier Frias Conde

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

LA PLANETA, DE JOSEP MICÓ


O PLANETA

Não escolhi o cosmos onde nasci,
tampouco a galáxia nem o planeta,
nem o continente nem a época.
Nem a civilização, nem a cultura,
nem a família, nem os pais.
Não escolhi a classe social,
ninguém me perguntou quantos irmãos queria,
nem se os queria.
Tampouco não me ofereceram um corpo sob medida:
raça, altura, dimensões, cores.
Não escolhi sexo, nem preferências sexuais,
nem coeficiente de inteligência,
nem amigos, nem colegas do trabalho,
nem parelhas para o amor,
nem de certo este poema.
Não é por mim que não terei linhagem.

Talvez seja por mor da paisagem,
talvez seja pola seiva do meu planeta.
Se não o fosse, o gozo e a dor dependeriam de mim,
diriam que sempre fui livre,
e dirão que sou o único responsável
pola minha felicidade.

© Texto: Josep Micó
© Tradução: Xavier Frias