segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

UNI-VERSOS, DE CAROLINA MUÑOZ SUANCHA

Beijara-o tanto
que mesmo por lá lhe saíram as entranhas todas.
Deitada no pó da dor
pregou para o desejo enxugar.

Acabou de chorar
e arrancou uma após outra as pestanas
fez um longo fio
e coseu os lábios.

Diz-se que nunca mais
suplicou por amor

* * *

E uma cousa leva a outra...
Ele é de vidro,
ainda nem se sabe amado,
leu todos os gestos rítmicos,
fala do cortejo astral,
treme de estupor e
presente o seu final
Fragmentado no chão,
jaz feliz, agora ele é só desejo
e lembra.

* * *

Porquê é que assim dançavas não sei.
És o boceto dos meus afetos.
Apareces
e todos os meus versos são consoantes.
Mexes-te e a cultura perpetua-se.
Fazes amor com a reminiscência que sou.
Acordas
e voltas a ser un cadáver que à noite traz
o meu antídoto contra o esquecimento.

© Texto: Carolina Muñoz Suancha
© Tradução: Xavier Frias-Conde

Sem comentários:

Enviar um comentário