Um casario abandonado,
os mortos deixaram
a roupa no tendedoiro
e a porta entreaberta,
avondava entorná-la
para profanar o derradeiro
açougue da privacidade
dos que ali moraram:
a mesa da parva
ainda revolvida de faragulhas
e um pingo de leite
calcificado no mantel de hule,
havia também um caço porco
um colher, um coador com café
magorento, um rodilho teso
de pano apegado ao respaldo
duma cadeira, uns óculos redondos
botados polo chão. Não prestava
seguir a furgar para além
da cozinha... Dava mágoa e fedia,
um fedor râncio, nojento,
enchia a casa baldeira.
Pensei: "O diabo não existe,
apenas a morte pode deixar
este fedor por onde passa".
© Texto: Pablo Antón Marín Estrada
© Tradução: Xavier Frías Conde
Sem comentários:
Enviar um comentário