sábado, 13 de setembro de 2014

A MUDAR GEOGRAFIAS, DE SILVIA CUEVAS MORALES


CHANGING GEOGRAPHIES

Migration
People from the past
            you can no longer hug
Evoking moments
            streets, squares, faces
Things you can no longer touch

People from one’s childhood
            - doesn’t matter if they’re dead or alive...
You can no longer see them
            hear or speak to them
in real time

Conversations are hurried
            letters arrive too late
Only photographed faces stare
            fixed in a lost space

Three of us survived
            as we made Australia home
Away from bloody dictators
            ignorant of humanitarian rights
            still not paying for  their wrongs

Mother lost her battle with cancer
            and left us to  cope alone
Perhaps she went back to Santiago
            to the Andes, to her own Chilean ghosts

Always looking for something
            I left my Melbourne, my city of Fitzroy
Now my only two relatives exist in the distance
            My sister in Northcote
            My father in Maribyrnong

And in this circular journey
            I feel closer to my Chilean heart
            for here they speak my language
But funny ... now I long
            for a bit of my Aussie land

Caught in the middle of a map
            trying to hold on to a cartographer’s hand
Changing jobs, houses, languages
            leaving lovers behind

Being the foreigner
            the “wog”
            the “sudaca”
Never fitting in the new land

Changing geographies
            running from the past
But some nights ghosts haunt me
            and beg me to go back

And I surround myself with memories
            cheap mementoes
            of things gone by
that only survive in my memory
            for in reality,  they are no longer alive.

But distance is real
            - gradually,  one does grow apart –

Published in Changing Geographies. Universidad de Barcelona, 2001.

A MUDAR GEOGRAFIAS

Migração
Gente do passado
    já nem podes abraçar

Evocar momentos
    ruas, praças, rostos
Coisas que não voltarás a tocar

Pessoas da própria infância
   - nem se importa se vivos ou mortos -

Já não podes vê-los
    nem ouvi-los nem falar-lhes
    em tempo real

As conversas apressam
    as cartas chegam tarde demais
apenas fitam os rostos nas fotos
    quedos em espaços fixos

A mãe perdeu a batalha contra o cancro
    e deixou-nos a nos arranjar sozinhos
se calhar voltou a Santiago
   aos Andes, aos seus próprios fantasmas chilenos 

Sempre a procurar algo
   abandonei a minha Melbourne, a minha cidade do Fitzroy
Agora os meus dois únicos parentes existem na distância
    minha irmã em Northcote
    meu pai em Maribyrnong

E nesta viagem circular
    sinto-me mais perto do meu coração chileno
    porque aqui falam a minha língua
Mas é engraçado
    agora sinto saudade da minha terra australiana

Capturada no meio de um mapa
    a tentar apertar a mão de um cartógrafo
a mudar empregos, casas, idiomas
    a deixar amantes às costas

Ser a estrangeira
   a “wog”
   a “sudaca”
sem conseguir encaixar na nova terra

A mudar geografias
   a se afastar do passado
mas por vezes os fantasmas me caçam
   e pedem-me voltar

E rodeio-me de lembranças
    de mementos baratos
    de coisas passadas
que apenas sobrevivem na minha memória
    pois de facto já não estão vivas

Mas a distância é real
–– aos poucos, um já medra à parte ––

Texto: Silvia Cuevas Morales
Tradução: de Xavier Frias Conde
    

1 comentário:

  1. belíssimo poema!,amiga.Conheces a escritora laura serrano?
    me encanta também muchíssimo!

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